Sobre No Lugar Errado[1]

07/05/2013

 

 

Este filme nasce a partir de um encontro entre cinema e teatro. Um encontro às cegas que gerava um sentimento de ansiedade. Enquanto filmávamos, era sempre incerto o que ia acontecer no momento seguinte, o que nos exigia um estado de alerta constante. Sentíamos a adrenalina de quem se joga no escuro e isso nos atraía para esse filme. Nesse sentido No lugar errado está mais próximo de Estrada para Ythaca que de Os monstros.

 

Mas o que em Ythaca era harmonioso aqui vira choque. Este é um filme de porrada. Porrada pra todos os lados. Vocês precisam imaginar que estão diante de um primeiro encontro, mas que ao invés dos bons modos e da formalidade habituais nesse tipo de situação você tem justamente o oposto: o excesso, a falta de pudor e o descontrole. Mas isso é apenas uma das camadas do filme. O trabalho e esforço que fica para o espectador é o de atentar para as outras, que também estão lá. Elas estão nas entrelinhas, nos intervalos. O filme dá dicas, tenta apontar praquilo que pode passar desapercebido, mas como sempre, em maior ou menor grau, ele depende de quem olha para se realizar.

 

Quero então chamar a atenção para os corpos. Para a rapidez com que eles dialogam. Para o interplay entre eles, no improviso. A memória dos personagens está impressa nos corpos dos atores. Mas além dos corpos do atores em cena, tem também os nossos próprios corpos enquanto diretores que participam desse interplay. Atrás da câmera nos movimentamos constantemente para encontrar o nosso lugar no jogo estabelecido com os atore. Aliás, a palavra movimento pode ser a chave de entrada nesse filme. Os planos são estáticos apenas aparentemente. Nesse sentido No lugar errado está mais próximo de Os monstros que de Estrada para Ythaca.

 

Mas No lugar errado é uma experiência particular. Foi um filme que nos possibilitou questionar o discurso que vínhamos construindo em nossos filmes anteriores (o Grupo Desvio Experimental nos colocou contra a parede e só temos a agradecer. Ainda estamos tentando assentar a experiência e entender como levá-la adiante). Por outro lado, o filme nos propôs o desafio (muito feliz pra qualquer diretor de cinema) de termos que nos colocar em cena de forma estritamente cinematográfica e ter de lidar com coisas básicas dessa arte como: a delimitação do espaço cênico, movimentação do ator em relação à câmera e vice versa.

O teatro foi o nosso pequeno estúdio.

 

Luiz Pretti


[1] Texto escrito como apresentação de uma exibição do filme No Lugar Errado no Cine 104 dentro da Mostra Cinema Estética e Política, realizada pelo Grupo de Pesquisa “Poéticas da Experiência” da UFMG.