Nenhuma Fórmula Para a Contemporânea Visão do Mundo, de Luís Rocha Melo.
26/05/2013
Nenhuma fórmula para a contemporânea visão do mundo (2012) é uma comédia sobre o drama que é viver da criação artística no Brasil. Foi realizado de forma livre, ousando sem a preocupação de errar, e por isso mesmo resultando em um trabalho que deve ser visto e ouvido da forma mais livre e desrecalcada possível.
O filme recusa a atual visão melancólica e elitista que enxerga no ato de criar ou de fazer arte um privilégio de poucos. A personagem de Carola Brecker (Anna Karinne Ballalai), com todas as complexidades e limitações de qualquer ser humano, é uma personagem aberta ao mundo, que dá um solene adeus à melancolia fake, às “panelinhas” do cochicho, e alça o seu próprio vôo.
O filme se passa em São Paulo e no Rio de Janeiro e é uma produção totalmente independente, realizada e finalizada em suporte digital com equipamentos próprios, sem editais, sem financiamento externo ou oficial algum, e só existe mesmo graças aos artistas que participaram dela. E aí pude contar com contribuições maravilhosas, a começar por Anna Karinne Ballalai, atriz que interpreta a protagonista Carola Brecker e que também é a roteirista do filme. Assim, ela mesma pôde colocar muito da experiência pessoal como escritora na construção da personagem que interpreta.
Contei ainda com a participação no elenco de dois grandes nomes do cinema brasileiro: Roman Stulbach e Otoniel Serra.
Roman Stulbach produziu e dirigiu filmes premiados como os curtas Por exemplo Butantã (1968), Missa do Galo (1973) e o longa-metragem documental Suíte Bahia – Reencontro com Agnaldo Siri (2007), além de ter sido o montador de um clássico do cinema brasileiro, o longa Bang Bang, de Andrea Tonacci (1970). Nenhuma fórmula para a a contemporânea visão do mundo foi a estréia de Roman Stulbach como ator, e ele se revela um excelente comediante interpretando o diretor Karkovski.
Já Otoniel Serra atuou em longas como Copacabana mon amour (Rogério Sganzerla, 1970), A lira do delírio (Walter Lima Jr., 1978) e Strovengah – amor torto (André Sampaio, 2011); no filme, Serra faz uma participação especial como ele mesmo, em meio às videoinstalações de uma exposição em homenagem ao Rogério Sganzerla.
Destaco também as atuações do fabuloso Alessandro Gamo no papel de Al Gazarra, do incrível Remier Lion as himself e da eletrizante Alicia Ferreira como Alicia Stewart, uma das mais importantes fotógrafas de vanguarda da cena novaiorquina.
O clima das filmagens foi de mútua colaboração e total descontração. Os diálogos, por exemplo, foram em grande parte criados de improviso pelos atores, com base em situações previstas pelo roteiro. Na equipe técnica, foi fundamental o trabalho do editor de som e mixador Luís Eduardo Carmo, o genial Bum, que elaborou com muita sensibilidade o desenho sonoro do filme.
Nenhuma fórmula para a contemporânea visão do mundo é um título livremente inspirado em um verso do Manifesto da Poesia Pau-Brasil, de Oswald de Andrade. VER COM OLHOS LIVRES!
P.S.: essa estreia no site da Alumbramento é dedicada ao Roman Stulbach, falecido em 15 de maio de 2013. Uma perda muito sentida por todos nós. Além de artista excepcional, era uma figura maravilhosa, amável, doce, generosa, um amigo muito querido. De onde você estiver, Roman, receba um beijo de todos nós.
(Luís Rocha Melo, 24/05/2013)