O Terror Simbólico Contra O Horror Cotindiano

16/11/2012

 

O homem contemporâneo fez do arranha-céu seu templo. O capitalismo como religião criou seus próprios objetos de culto,  monumentos de cimento e aço, odes ao vazio. As primeiras cenas de “Não estamos sonhando” causam estranhamento. A incompletude das imagens sem som, o homem em sua cama, a postura corporal de derrota, nada anunciam. O quarto parcialmente iluminado, o homem fumando um cigarro, a luz da manhã insinuando-se na janela trazem a sensação de um cotidiano triste e reincidente.

Então o gravador é ligado e o som invade a cena. O ruído ensurdecedor de mais um prédio erguendo-se. O personagem lê um trecho do urbanista Lúcio Costa, anunciando uma nova arquitetura na alvorada do século XX: “Assim, o arranha-céu deve ser considerado como a resultante desse nosso estado de espírito e de progresso material, dessa nossa mentalidade audaciosa e construtora, dessa nossa mania infinitamente tola de brincar com moedinhas de ouro como brincam as crianças com soldadinhos de chumbo.” Discurso fatalista, de quem aceita a realidade tal qual se impõe.

A voz do personagem sussurra: “Se faz necessária a ação.” Mas qual ação possível? A destruição simbólica destes monumentos sem alma? Resta a imaginação, último reduto ainda não totalmente capturado pelo horror cotidiano. Cenas de destruição e guerra se insinuam nos movimentos de câmera, nos sons de explosão. Esta época como todas as outras ruirá. A vontade do personagem a balançar a solidez urbana dos prédios, o horror da arquitetura sem é(ste)tica.

E no momento seguinte voltamos à pretensa “normalidade”, não menos perturbadora do que a destruição imaginada. No cotidiano, ininterrupto, neste presente eterno que anuncia o capitalismo, operários sobem mais um prédio a barrar o horizonte.

“Não estamos sonhando”. O sonho, a vontade de superação deste presente sem porvir. Será o terror, ao menos o terror simbólico, nosso último suspiro de mudança? Terror, a palavra não absorvida pelo capitalismo, o irracional neste mundo de previsibilidade e concreto. Neste pequeno filme enigma tateamos um discurso sobre nossa catástrofe e nosso futuro. No horizonte de concreto, haverá caminho para o humano?

Thiago Brandimarte Mendonça

 

Link para o filme.